O poeta Tomás Antônio Gonzaga, patrono da cadeira no 37 da Academia
Brasileira de Letras, nasceu na cidade do Porto, em Portugal. Era filho
do brasileiro dr. João Bernardo Gonzaga e de dona Tomásia Isabel Clark.
Passou parte da infância no Recife e na Bahia, onde o pai servia na
magistratura e, adolescente, retornou a Portugal para completar os
estudos, matriculando-se na Universidade de Coimbra, onde concluiu o
curso de direito aos 24 anos.
Depois de formado, exerceu alguns cargos de natureza jurídica e
candidatou-se a uma cadeira na Universidade de Coimbra, apresentando a
tese "Tratado de Direito Natural".
Em 1778, foi nomeado juiz-de-fora na cidade de Beja, com exercício até
1781. No ano seguinte, no Brasil, foi indicado para ocupar o cargo de
Ouvidor Geral na comarca de Vila Rica (atual Ouro Preto), em Minas
Gerais.
Nessa época, o poeta, aos 40 anos, dedicava poesias a Maria Dorotéia
Joaquina de Seixas, de apenas 17 anos, que iriam fazer parte do livro
"Marília de Dirceu". A família da moça, muito tradicional, opunha-se ao
romance, mas aos poucos a resistência foi cedendo.
Em 1789, Tomás Antônio Gonzaga foi acusado de participação na
Inconfidência Mineira. Detido, foi enviado para a Ilha das Cobras, no
Rio de Janeiro, partindo depois para Moçambique, onde se casou com
Juliana de Sousa Mascarenhas, filha de um rico comerciante de escravos, e
teve um casal de filhos. Faleceu no exílio em dia desconhecido, no mês
de fevereiro de 1810.
Tomás Antônio Gonzaga, cujo nome arcádico é Dirceu, escreveu poesias
líricas, típicas do arcadismo, com temas pastoris e de galanteio,
dirigidas à sua amada, a pastora Marília.
As "liras" refletem a trajetória do poeta. Antes da prisão, apresentam a
ventura do amor e a satisfação com o momento presente. Depois, trazem
canta o infortúnio, a justiça e o destino.
As "Cartas Chilenas" correspondem a uma coleção de doze cartas, poemas
satíricos que circularam em Vila Rica poucos antes da Inconfidência
Mineira. Assinadas por Critilo (leia-se Gonzaga), habitante de Santiago
do Chile (leia-se Vila Rica) e endereçadas a Doroteu (leia-se Cláudio
Manuel da Costa), residente em Madri. Critilo narra os desmandos do
governador chileno, o Fanfarrão Minésio (leia-se, Luís da Cunha
Meneses).
Por muito tempo, discutiu-se a autoria das "Cartas Chilenas", mas após
estudos comparativos da obra com possíveis autores, concluiu-se que o
verdadeiro autor é Gonzaga.
Texto extraído na íntegra do link http://educacao.uol.com.br/biografias/tomas-antonio-gonzaga.jhtm
Cartas Chilenas
(Tomás Antônio Gonzaga)
artas Chilenas é um conjunto de poemas, escritos em
versos decassílabos e brancos, com uma metrificação parecida com a da epopéia, e
circularam anonimamente em Vila Rica, entre 1787 e 1788, seus versos assumem um
tom satírico.
É uma obra satírica, constituindo poema truncado e inacabado (13 cartas), na qual
um morador de Vila Rica ataca a corrupção do Governador Luís da Cunha Menezes.
Aponta as irregularidades de seu governo, configurando o ambiente de Vila Rica
ao tempo da preparação política da Inconfidência Mineira. Em julho deste ano de
1878, Cunha Menezes deixaria o governo de Minas, em favor do Visconde de Barbacena.
Onde se deveria ler Portugal, Lisboa, Coimbra, Minas e Vila Rica, lê-se Espanha,
Madrid, Salamanca, Chile e Santiago. Os nomes aparecem quase sempre deformados:
Menezes é Minésio. Há apelidos e topônimos inalterados, como: Macedo, a ermida
do Senhor Bom Jesus de Matosinhos, a igreja do Pilar. O autor se dá o nome de
Critilo e chama o destinatário de Doroteu. Finalmente, os fatos aludidos são facilmente
identificados pelos leitores contemporâneos.
A matéria é toda referente à tirania e ao abuso de poder do
Governador Fanfarrão Minésio, versando a sua falta de decoro, venalidade,
prepotência e, sobretudo, desrespeito à lei. Afirmam alguns que o poema
circulava largamente em Vila Rica em cópias manuscritas.
Critilo (Tomás Antônio Gonzaga) aplica-se de tal modo na sátira, que a beleza
mal o preocupa. Os versos brancos concentram-se no ataque. Sente-se um poeta capaz
de escrever no tom familiar que caracteriza o realismo dos neoclássicos, com certa
inclinação para a pintura da vida doméstica.
Para Critilo, o arbitrário Governador constituía, de certo modo, atentado ao equilíbrio
natural da sociedade.
Entretanto, não se nota nas Cartas nenhuma rebeldia
contra os alicerces do sistema colonial, nem mesmo uma revolta contra o
colonizador; apenas se critica a má administração do governador Cunha Menezes.
Seu significado político, todavia, permanece. Literariamente, é a obra satírica
mais importante do século XVIII brasileiro e continua sendo o índice de uma
época.
Sendo anônimo o poema e tendo permanecido inédito até 1845,
houve dúvida quanto à sua autoria, embora a tradição mais antiga apontasse
Gonzaga sem hesitação. Falou-se depois em Cláudio, em Alvarenga Peixoto, em
colaboração etc. Estudos empreendidos neste século, culminando pelos de
Rodrigues Lapa, vieram dar praticamente a certeza da atribuição a Gonzaga.
É tida como uma das mais curiosas sátiras de
todos os tempos em Literatura Brasileira (junto com Antônio Chimango).
Quem assina essas cartas é um certo Critilo, que escreve a um amigo, Doroteu. O
contexto também era diverso, já que o clima de opressão e a tensão política
deveriam se asilar no apócrifo.
As Cartas têm em Cunha Menezes (no
texto, batizado com o singelo nome de Fanfarrão Minésio) o seu protagonista.
Além do viés satírico, a obra constitui um interessante quadro dos costumes
daquela época e um registro precioso do que era a corrupção no Brasil já desde
os tempos da Colônia. Critilo, por sua vez, escreve do Chile.
Carta 1ª
(fragmentos)
Não cuides, Doroteu, que vou contar-te
por verdadeira história uma novela
da classe das patranhas, que nos contam
verbosos navegantes, que já deram
ao globo deste mundo volta inteira.
Uma velha madrasta me persiga,
uma mulher zelosa me atormente
e tenha um bando de gatunos filhos,
que um chavo não me deixem, se este chefe
não fez ainda mais do que eu refiro.
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Tem pesado semblante, a cor é baça,
o corpo de estatura um tanto esbelta,
feições compridas e olhadura feia;
tem grossas sobrancelhas, testa curta,
nariz direito e grande, fala pouco
em rouco, baixo som de mau falsete;
sem ser velho, já tem cabelo ruço,
e cobre este defeito e fria calva
à força de polvilho que lhe deita.
Ainda me parece que o estou vendo
no gordo rocinante escarranchado,
as longas calças pelo embigo atadas,
amarelo colete, e sobre tudo
vestida uma vermelha e justa farda.
Texto extraído na íntegra do link http://www.passeiweb.com/na_ponta_lingua/livros/resumos_comentarios/c/cartas_chilenas
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